sábado, 28 de maio de 2011

Alienação no paradigma laboral: uma mudança necessária

Alienação no paradigma laboral: uma mudança necessária

Viver a história do passado na história do presente, ou seja, viver em um contexto sócio-histórico-cultural que não condiz com a atualidade é viver alienado e orientado por paradigmas ultrapassados, ignorando que é necessária uma orientação embasada em princípios condizentes com a evolução do pensamento. Essa situação ocorre em nossa sociedade atualmente em vários âmbitos, nesse texto queremos refletir sobre a desigualdade de gêneros e de salário que há na vida laboral em alguns setores de nossa sociedade.
     Não podemos analisar apenas um fator que influencia um evento, pois normalmente um fato ocorre através de muitas influências, por mais que algumas delas sejam mínimas; entretanto, entraríamos em muitas discussões para tentar explicar os motivos que fazem com que ocorra essa desigualdade entre os gêneros no âmbito laborial. Podemos destacar alguns pontos que poderiam causar essa diferença: um deles é a influência de alguma(s) religião(ões) a(s) qual(is) foi(ram) muito marcante(s) na história da humanidade. O Papa João Paulo II reafirmou em 1994 que apenas os homens poderiam ter a vida sacerdotal, pois Jesus só tinha apóstolos homens. Surge a seguinte pergunta: por que as mulheres não podem realizar um trabalho “puro”? O que importa é que interpretações atemporais da história, como essa, causam a exclusão injusta através de um paradigma não-atual, pois o contexto social em que Jesus vivia não permitiria que ele realizasse sua missão de forma eficaz, já que a mulher na sociedade israelense de sua época era considera um ser inferior ao homem e a figura feminina não tinha voz ativa na sociedade. Dessa forma, se ele se cercasse de mulheres para realizar sua missão seria, no mínimo, ignorado e seus esforços para transformar para melhor a sociedade seriam inúteis. O próprio Leonardo da Vinci desafiou essa afirmação ratificada pelo papa antes mencionado desenhando a Santa Ceia, onde na pintura podemos perceber uma mulher como apóstola, obviamente temos que concordar que naquela época a humanidade recém estava saindo das trevas.
      Porém, estamos no século XXI, ou seja, está escrito na “Constituição Federal no título dois – dos direitos e garantias fundamentais – capítulo 1: dos direitos e deveres individuais e coletivos – artigo quinto: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança [...], nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição”. Por que viver alienadamente , por que viver em um contexto social do passao? A lei é taxativa: todos são iguais perante a lei, não cabendo distinção de sexo para acesso ao trabalho. O que falta é o cumprimento do que a Constituição estabelece por falta de conscientização da sociedade e de uma fiscalização eficaz por parte do Estado. Portanto, para que não haja mais injustiças (exclusão), é necessário que todos aqueles que possuem um paradigma alienado (desatualizado), atualizem-no através da conscientização de igualdade entre os sexos e, para que isso ocorra, é necessário que haja micropolíticas em nossa sociedade.

Noticia sobre mulheres no mercado de trabalho: uma visão otimista?

http://www.youtube.com/watch?v=-kYhaJlFcxk

6 comentários:

  1. Sim, ainda mulheres são excluidas do mercado de trabalho e existem profissões que saõ tipicamente femininas e outras tipicamente masculinas. Mas, infelizmente ainda há mais discriminação; negros, estatisticamente, recebem salários menores do que brancos.

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  2. As profissões tipicas de cada gênero podem depender do viés paradigmático o qual estamos acostumados a ter como prática discursiva, ou seja, acredito que nunca vimos uma guerra onde noventa por cento do batalhão era constituído por mulheres, por exemplo, caso esse processo tivesse ocorrido com muita frequência, poderiamos achar algo natural mulher fazer esse trabalho e, quem sabe, não o homem. Por isso, acredito que o equilíbrio é um dos fatores fundamentais, pois, assim, com ele, nada seria visto como algo extremo que, nesse caso de desigualdade, não haveria preconceito e nem exclusão. Não teríamos uma visão extremada dos eventos.

    E a exclusão de negros também tem como um dos fatores (que acredito ser o preponderante) a mesma questão histórica das mulheres, porém em um contexto diferente: que foi a questão da escravidão. Porém o fim da escravatura foi extinguida em 13 de maio de 1888 através da Lei Imperial n.º 3.353: Lei Áurea. Portanto, essa discriminação dos negros é um fato alienado em nossa sociedade, pois deveríamos ter a consciência de que estamos em 2011, ou seja, estamos vivendo (claro que nem todos) uma era do passado que, dessa forma, não condiz com a do presente.

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  3. Quanto mais o tempo passa, vemos o quão hipócrita é a Igreja. Todos os irmão são iguais, mas a mulher é inferior? São essas coisas que fizeram, fazem e farão a credibilidade da Igraja diminuir até comprovarmos a farsa. Parabéns pelo blog, tomara que mais pessoas possam debater suas ideias e ideais.

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  4. A educação é a base de tudo. Claro, sempre vimos gerações e gerações virem com um paradgma patriarcal imbutido nos seus chips, mas hoje isso já está mais que na hora de mudar. Eu cresci numa família em que o machismo e o feminismo nunca existiram, meus pais e avós sempre dividiram as tarefas que eram, na época, questão de comentários maldosos. Meu pai é um ótimo dono de casa e minha mãe uma ótima empresária, meu pai é um ótimo advogado e minha mãe uma belíssima esposa, mãe e amiga... e vice versa. Minha avó sempre trabalhou e sustentou uma casa como estilista, musicista e sendo a comandante de tudo. E meu avô um músico doido por viagens e boemias, tendo pouco controle sobre a vida da família. E nem por isso vejo algo de errado nisso. A questão é nós, agora, passarmos para frente a importância da igualdade. Somos frutos da mesma terra, vivemos num mesmo espaço, com capacidades e condições de tudo, onde for. Cada ser nasceu com sua missão. Machismo e feminismo são pólos com preconceito visível, no meu ver, hipócrita. O igualistarismo, tanto de etnias, credo, sexo..., cada um com suas definições, mas na mesma essência é o que deve ser implantado dentro de nós e respeitado, para podermos passar boa lição aos que virão,e não repassar a "moral de cueca".
    Mas para isso, para reeducarmos nossos pensamentos e conceitos devemos estar abertos a tudo, e nos policiarmos quanto qualquer opinião de separação desnecessária.

    Enfim, eu sou igualitária. Meu marido aspira o chão, lava a louça, eu limpo o banheiro, um leva café na cama para o outro, os dois estudam para bons empregos e com certeza vamos lutar por melhorias nisso, nesse quadro lamentável que insiste em existir, o preconceito.

    "Portanto, para que não haja mais injustiças (exclusão), é necessário que todos aqueles que possuem um paradigma alienado (desatualizado), atualizem-no através da conscientização de igualdade entre os sexos e, para que isso ocorra, é necessário que haja micropilíticas em nossa sociedade."
    ÓTIMO, parabéns pelo blog, pelo belíssimo texto e pela iniciativa de mudança. Se quisermos ver a mudança, que comecemos a realizá-la, AGORA!

    Nina Haywood

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  5. Lucas, é interessante essa questão de uma filosofia hipócrita o qual um grupo social segue. Pois isso faz com que esses sujeitos façam um reflexo dessa ideologia hipócrita dentro de sua sociedade e, inclusive, acabam até mesmo não cumprindo uma das leis da constituição.
    Por isso algumas pessoas podem até correr o risco de acabarem estereotipando o seu comportamento, pois agem conforme a sua filosofia, ou seja, isso pode fazer com que o esse ou esses sujeitos possuam um paradigma estereotipado e, assim, não consegue ou não conseguem aceitar as mudanças e as novas visões que ocorrem dentro de nossa sociedade.

    Agradecemos o apoio,

    Grupo CSA.

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  6. A abordagem do texto faz referência à(s) religião(ões) como fator influenciador nas questões de discriminação da mulher no mercado de trabalho. Essa é uma realidade que se vê muito no antigo testamento, que, aliás, não deve ser confundido como regras cristãs, já que cristão é o que vem da Doutrina do Cristo. Aquelas regras dizem respeito às leis que vigoravam no judaísmo daquela época. Dessa forma a mulher foi declarada a principal responsável pelo “pecado original” e sobre ela recaiu todo o peso dessa fábula.
    Jesus, ao contrário do que apregoa significativa parte do antigo testamento, sempre defendeu a igualdade e se não disse mais foi porque não estávamos ainda preparados para maiores informações. O que disse a respeito da fraternidade e da igualdade, indo de encontro ao que o clero da época defendia, foi o suficiente para ser supliciado. Mas ficaram seus ensinamentos estampados em todas as constituições modernas do mundo ocidental. E o principal deles é a igualdade. Com a sua pregação que se constituiu na mais expressiva micropolítica que se tem conhecimento, a qual se propagou por todo o ocidente graças a Paulo de Tarso, o Direito sofreu drástica mutação, procurando disciplinar-se pelos princípios fundamentais, os quais todos foram trazidos à tona ou reavivados pelo Mestre de Nazaré.
    Se a mulher ainda sofre discriminação nas questões salariais em determinados setores da sociedade, isso, pode-se dizer, é reflexo da educação equivocada das religiões tradicionais que se atêm mais aos textos anteriores ao advento da pregação do Cristo, incorporando-os de forma equivocada à pregação dita cristã.
    De qualquer forma o constituinte de 1988 foi feliz quando estampou em nossa atual Constituição os princípios basilares de igualdade, que não admitem diferenciação entre homens e mulheres, estabelecendo no Art. 7º, inciso XXX – “proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil”. Assim, se ainda existem atitudes nessa área de acordo com paradigmas ultrapassados, temos as leis que disciplinam as relações de emprego defendendo o direito de tratamento igualitário tanto para homens como para mulheres. É necessário fazer uso dos recursos que o Judiciário disponibiliza quando os direitos são desprezados.
    Parabéns pela abordagem. Oxalá essas questões venham a ser bem tratadas pelas novas gerações que aí estão, e que têm a oportunidade de transformar para a melhor a sociedade.

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